Quem São os Filhos de Deus em Gênesis 6? - 2 Junho,
2022
A interpretação de Gênesis 6.1-4 é difícil e
controversa. A interpretação da expressão “filhos de Deus”. Quem são eles? refere-se a seres humanos ou a seres
espirituais (do mal).
A passagem completa diz:
Como se foram multiplicando os homens na
terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens
eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes
agradaram. Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para sempre no
homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos. Ora,
naquele tempo havia gigantes na terra; e depois, quando os filhos de Deus
possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram
valentes, varões de renome, na antiguidade.
Opção 1: Filhos de Deus = Filhos de Sete
Um ponto de vista é que os “filhos de Deus”
seriam descendentes de Sete. Nesta interpretação, os descendentes piedosos de
Sete ficaram intoxicados pela beleza das mulheres descendentes de Caim,
casando-se, então com aquelas que rejeitaram a Deus, levando a uma maior
perversidade.
A evidência mais forte para esta posição é
encontrada em Gênesis 4-5, que descreve duas linhagens de Adão: uma de Caim e a
outra de Sete.
O Antigo Testamento às vezes se refere ao povo
da aliança de Deus como filhos de Deus (Dt 14.1; Jr 3.19), embora a expressão
exata “filhos de Deus” não seja usada com relação a eles. Caso esta visão seja
correta, poderia explicar por que Deus posteriormente proibiu os israelitas de
se casarem com mulheres cananeias (Ex. 34.16; Dt 7.3).
Opção 2: Filhos de Deus = Anjos Caídos
A interpretação mais antiga, e provavelmente a
mais amplamente defendida, é que os “filhos de Deus” são anjos caídos (do mal).
Esta foi a interpretação favorita no antigo judaísmo e na igreja primitiva (cf.
1P. 3.19-20; 2Pe 2.4; Jd 6). A expressão “filhos de Deus” é claramente usada em
outros lugares em referência às hostes angelicais na corte celestial de Deus
(cf. Jó 1.6; 2.1; 38.7). Além disso, o narrador parece contrastar “o homem” e
“as filhas dos homens” com os “filhos de Deus” em Gênesis 6.1-2.
No entanto, esta posição não é isenta de
dificuldades, a mais substancial delas sendo a ideia de anjos caídos terem
relações físicas com mulheres. As Escrituras fazem o relato de anjos se
envolvendo em atividades humanas, tais como comer (Gn. 18.1-2,8; 19.1, 5), mas
certamente relações sexuais é um passo além! Jesus exprimiu um ponto semelhante
em Mateus 22.30: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento;
são, porém, como os anjos no céu.”.
Qual Destas É Correta?
Apesar das óbvias dificuldades da segunda
interpretação, creio que a evidência aponta ligeiramente a seu favor,
principalmente porque tanto Pedro como Judas parecem tê-la sustentado.
Em 1 Pedro 3.18-22, Pedro refere-se aos
espíritos em prisão que desobedeceram nos dias de Noé (1Pe 3.19-20). Embora
haja contestações, a palavra “espíritos” provavelmente se refere a espíritos
malignos (cf. Mt 8.16; 12.45; Lc 4.36; 10.20; At 19.12-16). A ligação desses
espíritos com os dias de Noé aponta fortemente para Gênesis 6. Que tais
“espíritos em prisão” são anjos caídos é ainda confirmado por passagens
semelhantes em 2 Pedro e Judas.
Em 2 Pedro 2.4-10, por exemplo, o apóstolo cita
três exemplos da justiça de Deus no Antigo Testamento, como uma advertência aos
falsos mestres. Primeiro são os anjos que pecaram, que foram deixados presos
com correntes na escuridão, aguardando o julgamento final (2Pe 2.4 NTLH). O
segundo e terceiro exemplos são, o dilúvio nos dias de Noé (2Pe 2.5; cf. Gn
6-8) e a destruição de Sodoma e Gomorra (2Pe 2.6; Gen. 19). Dado que o segundo
e o terceiro exemplos não só vêm de Gênesis, como também estão listados em
ordem cronológica, faz sentido ver o primeiro exemplo como também vindo de
Gênesis. (Afinal de contas, Gênesis 6.1-4 vem logo antes da narrativa do
dilúvio.) Como os anjos são seres espirituais, a referência de Pedro a eles
como “presos com correntes” não se refere a cadeias físicas, mas sim a uma
limitação de sua atividade — presumivelmente para impedi-los de cometerem tais
perversidades novamente.
Tal como Pedro, Judas fornece três exemplos da
justiça de Deus no Antigo Testamento (Judas 5-7). Ao contrário de Pedro, ele
não menciona o dilúvio e não coloca os exemplos em ordem cronológica. Ainda
assim, Judas 6 é paralelo a 2 Pedro 2.4 e parece ser uma alusão a Gênesis 6.1-4.
Esses anjos demonstraram orgulho pecaminoso ao não guardarem o seu estado
original e abandonarem o seu próprio domicílio. Agora, estão “guardados sob
trevas em algemas eternas para o Juízo do grande Dia”. A comparação com os
homens de Sodoma e Gomorra em Judas 7 (“como Sodoma, e Gomorra … havendo-se
entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne”). implica que
este foi também o pecado dos anjos em Judas 6.
Como Isso É Possível?
Reconhecidamente, estas passagens não fornecem
uma resposta definitiva sobre como seres espirituais poderiam ter relações
sexuais com mulheres. Mas à luz dos exemplos que vemos no Novo Testamento,
parece melhor presumir que estes espíritos malignos tomaram posse dos corpos de
homens maus e os usaram para seus próprios propósitos pecaminosos.
O Novo Testamento nos dá exemplos claros de
demônios — e do próprio Satanás — ocupando seres humanos e fazendo com que ajam
de maneiras medonhas. Por exemplo, o endemoninhado Gezareno se comportava de
forma incontrolável com força sobre-humana (Marcos 5.1-20). Separar as ações do
homem das ações dos demônios é, em tais casos, quase impossível. Judas também
se comportou de uma maneira que o tornou culpado por seu pecado, embora João
deixe claro que Satanás havia entrado nele (João 13.27).
Claro, posso estar errado, e a interpretação
sobre os descendentes de Sete pode estar correta afinal. Admito abertamente que
a visão antiga parece estranha aos nossos ouvidos modernos. Mas, visto que
parece que Pedro e Judas a aceitavam, creio ser a melhor interpretação de
Gênesis 6.1-4. Qualquer que seja a interpretação correta, o ponto principal é
nítido: a humanidade estava caindo cada vez mais em pecado e afastando-se cada
vez mais para longe de Deus.
Traduzido por Vittor.
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